sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

"...the rest is still unwritten"

Certo. Passei dias, semanas, meses querendo mudanças e mais mudanças na vida. Não sabia exatamente o que, muito menos por onde começar. E dentro de mim parecia que a ansiedade ia se acumulando como numa bolha; ia aumentando, aumentando, até estourar.
Já estourou algumas várias vezes. Às vezes consequências pequenas, médias. Uma vez ou outra, nem tanto. Uma vai ficar na história.

Enfim, nessas ruas que andei comecei a perceber que mudanças pequenas iam acontecendo, aos poucos, devagar... E a grande mudança (em mim, na rotina etc.) só percebia depois.

Exceto agora. Em questão de poucos meses mesmo: reviravolta.
Primeiro que eu estou em um relacionamento sério e mongâmico (assim dita o facebook. E a sociedade).
Segundo que saí de um trabalho. Entrei em crise. Tô a ponto de arranjar outro (dedos cruzados pra etapa final da seleção).
Terceiro que vou me mudar. Sair dessa cidade e ir pra outra. Nova faculdade. Novos projetos. Novxs amigxs (assim espero). Novas perspectivas. Novas bolhas a serem criadas e estouradas (mais uma vez, dedos cruzados para que as consequências sejam bem pequenas. No máximo, voltar a fumar).

Em pouquíssimo tempo, imagino eu, vai ser tudo muito novo. Pela primeira vez, não estou criando muitas expectativas. Por vezes e vezes não foram correspondidas (crio expectativas himalaianas) e fiquei muito mal. Mas sempre me foi natural me impor, e impor às novas situações que iria passar, grandes expectativas.
O desafio agora é controlar essa bolha de ansiedade. Deixar tudo indo, lindo, até lá. E quando chegar lá (o ponto; não exatamente lá, a outra cidade)... bom, aí é um capítulo novo (mesmo) do livro. E eu que escrevo ele todinho, né?

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A tendência é a gente seguir os caminhos que mais nos identificamos, certo? Feminismo, questão de gênero e afins são minha área.
Nada mais normal que eu me interesse mais por esses debates, esse tipo de leitura, correto?
Correto. E agora descobri que tem como aliar o que eu estudo ao que eu adoro! Engraçado como as coisas vão se conectando e a gente nem saca..

Lendo um dos meus blogs preferidos um dia desses (escreva Lola escreva), vi um post muito muito interessante sobre algo reiteradamente debatido (já já falo). Era um guest post, e a moça em questão, segue minha área (acadêmica) e ainda deixou contatos. Yeah! Claro que vou contatar!

O tema era a culpabilização das vítimas de violência sexual (inclusive tema por mim abordado na entrevista de trabalho nova). Eu não sei como ainda me impressiono com comentários absurdos relacionados a isso. Não precisa ser muito profundo quando há coisas tão óbvias: se eu tô andando na rua, saindo do ponto A e indo ao ponto B, é porque quero chegar ao ponto B. Só isso. Por que diabos eu ia querer ouvir comentários a meu respeito nesse trajeto? Por que diabos eu ia achar que os homens têm direito de comentar sobre minha aparência ou minha roupa nesse trajeto? Por que diabos alguém ia achar que passaria pela minha cabeça pegar um homem desses (e aqui me refiro a qualquer homem. Realmente não importa aparência, classe social, cor da pele etc.) já que ele me passou uma "cantada"? Por que diabos um monte de gente não consegue ver que esse cara é um imbecil machista, que quer demonstrar seu poder (claro, porque caso eu resolva tomar uma atitude sabe-se lá o que pode acontecer), ou seja, não é um tarado sem censura e que a culpa é toda dele? Não minha. A atitude dele independe de minha aparência, do que estou vestindo, onde estou andando, a que horas estou andando. Quem violenta sexualmente é o VIOLENTADOR.

Escolhi violência sexual em vez de estupro, porque vai além disso.
Primeiro, cabe um breve esclarecimento: menos de 30% dos casos de estupro são aquelas cenas que imaginamos: lugar deserto, escuro, pessoa estranha te ataca.
Na maioria dos casos é alguém próximo: um tio, um primo, namorado, marido, amigo da família, um amigo.
Outro esclarecimento, até porque mulheres muitas vezes se sentem culpadas em relação a esse raciocínio (e vou invertê-lo um pouco agora): SIM É SIM. E só é um SIM válido quando é consciente e livre. Quando o SIM é um NÃO? Quando eu digo que não. Quando eu demonstro que não. Quando eu tô bêbada e desacordada. Quando algo depende do meu sim (ex: meu emprego, minha vida).

Estupro é a prática não consensual de sexo, imposta por violência ou grave ameaça de qualquer natureza. Muito simples.

E violência sexual? Aaah! Muita gente pode se surpreender no tanto de situação que entra aqui: quando mexem comigo na rua (não, não é cantada); quando passam a mão na minha bunda (ou sei lá onde) numa festa, na rua, ou seja, quando não estou pedindo; quando me seguram pelo braço, rosto etc. para tentarem me arrancar um beijo (te dei um toco, cara, se liga!); quando vejo na televisão mulheres sendo mostradas como objetos de beleza (e só) em trajes minúsculos; quando me dão a alcunha de vadia ou similares (porque fico com vários caras OU porque recusei ficar com determinado cara. Quando se mistura isso, então...); quando estou parada em algum lugar ou andando e homens me olham com cara de que estão me despindo mentalmente ou quebram o pescoço quando passo (juro. Não é legal.); quando homens me batem - na rua ou na cama (sem que eu queira. Mesmo que eu seja uma prostituta); quando quero com camisinha e sou forçada a ir sem camisinha etc.

Revisando:
1. Cantada não é elogio. Cantada não é nem cantada: é assédio, violência.
2. 20% das mulheres já sofreu algum tipo de violência por parte de homens. Isso as que dizem.
3. A cada 5 minutos uma mulher é agredida no Brasil.
4. A culpa de QUALQUER violência nunca é da vítima, mas de quem violentou. Inclusive, no estupro, ora bolas. Se ela não disse SIM cônscia e livremente, é NÃO.
5. Mulher gosta de sexo tanto quanto homem. Se não é consensual e legal pros dois, ops!
6. Tratar mal uma mulher não te faz "mais homem, mais macho". Te faz um imbecil idiota.
7. Mulheres têm liberdade para andarem por aí, se vestindo como quiserem, se comportando como quiserem. Não estão te dando mole, te provocando, nem te dando margem para serem taxadas de nada.
8. Mulheres não são objetos a serem exibidos a seres insaciáveis; nem a serem etiquetadas como "fácil", "difícil", "vou", "não vou".


Vou parar por aqui, que isso dá pano pra manga...

sábado, 20 de outubro de 2012

50 tons insípidos

Então, resolvi sucumbir à modinha atual e ler o famoso e polêmico "50 tons de cinza".

Li em diversos blogs feministas que acompanho uma certa divergência quanto ao conteúdo feminista do livro.
Só cheguei à metade até agora. Contudo, FALA SÉRIO! Não, o livro não é feminista. Uma mulher que se propõe a ser submissa a um dominador (e são exatamente essas as denominações), mesmo sabendo o quão (não sei que adjetivo usar aqui) é ser subserviente, porque não consegue ficar longe do alto homem branco de beleza européia e rico.
Aliás, o livro carrega uma série de outros preconceitos, que, nem sei porque, ainda me choco ao me bater com eles.

Até onde cheguei, o livro pode trazer uma reflexão feminista: afinal de contas, quantas são as mulheres que se submetem sexualmente e/ou de diversas outras maneiras a homens, para satisfazê-los, não ficarem sozinhas em casa vendo tv, rodeadas de gatos, e nem se dão conta disso?
O livro está fortemente marcado pela presença do sadomasoquismo, a mistura da dor e do prazer blábláblá. Isso, pessoalmente, é o menos importante. Se os dois (ou mais) topam, e querem mesmo, beleza: o que vale é o que rola entre quatro paredes.

A grande questão é: Anastasia se submete a Grey, sabe todos os perigos, as condições; critica a ideia e se auto-critica diversas vezes por sequer pensar nisso. Mas ela escolhe esse caminho. Até onde eu li, ela escolheu porque a ideia também pareceu ser excitante para ela. Até aí, okay. No entanto, ainda na dúvida do "topa ou não topa", ela se entrega a profundos pensamentos se deve aceitar ou não, porque senão ele pode deixá-la. Oh. Que triste. Não é um relacionamento assim (mesmo que o sexo seja maravilhoso) que ela quer, mas topa porque não vai tê-lo. Ela topa O QUE ELE QUER, senão vai ficar sozinha. Oi? Isso aí não é feminismo. Isso aí que é a submissão.

O livro é ruim, sem sal, sem açúcar, sem nada gostoso. Não me deixou um pingo excitada (enojada e enraivecida algumas vezes). A única reflexão que me trouxe é a já mencionada: a submissão sexual que Anastasia se permite é uma analogia (pra mim. Sei lá o que se passou pela cabeça da autora) para uma série de submissões que as mulheres se impõem, ou se deixam impor, (sem questionar ou contestar), em seus diversos tipos de relacionamento - seja no sexo ou não.

50 tons bem insípidos mesmo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Início, fim e meio

Alguém me disse algumas milhares de vezes: "Escreva! Você tem talento, não deixe isso se perder!" (Tá. Esse alguém foi minha mãe. E elogio de mãe, pra mim, não conta.)

Enfim, mas dentre momentos de desespero, de me sentir perdida, de pensar: Caralho, meu! Eu não tenho nenhum talento?, eu escrevi um post no facebook, em homenagem a uma amiga que se mudou. E, apesar do texto ter sido pensado e escrito para ela, milhões de pessoas (umas 30 e pouco, o que é muito pra mim) curtiram. Porque eu escrevi sobre uma angústia que paira sobre nossas (jovens, ou nem tão jovens assim) cabeças há um tempo: o se tornar adulto e todas as suas consequências. Boas e nefastas - como essa: dizer tchau, adeus, até logo. As pessoas têm a liberdade de sair pelo mundo (consequência positiva), mas vão deixando seus rastros e vão ficando com pegadas de outras pessoas (consequência negativa), enquanto o mundo vai girando.

Nada contra fazer seus planos, girar o mundo enquanto o mundo gira. Mas, putz!, cansei de dizer 'até logo''s travestidos de 'adeus''s - sendo que vem um bem bonito aí pela frente.

Já girei um bocadinho pelo mundo, e faço a cada dia mais planos pra que isso continue acontecendo. E já dei muitos adeus(es) por aí.
E aí, caiu a ficha. Nem consigo mais pegar uma porcaria de folha de papel em branco pra escrever sobre o que eu sinto, incluindo aí "não ter talentos". E alguém me disse (e não foi minha mãe): "Texto fodão esse o seu!" E outra pessoa: "Você escreve muito bem e lindamente. Continue"

Porque não?

Já tive muitos inícios e meios e fins.
Resolvi começar outro. Mesmo que ninguém leia isso aqui. Agora vou ter que encarar minhas folhas de papel em branco.