sábado, 20 de outubro de 2012

50 tons insípidos

Então, resolvi sucumbir à modinha atual e ler o famoso e polêmico "50 tons de cinza".

Li em diversos blogs feministas que acompanho uma certa divergência quanto ao conteúdo feminista do livro.
Só cheguei à metade até agora. Contudo, FALA SÉRIO! Não, o livro não é feminista. Uma mulher que se propõe a ser submissa a um dominador (e são exatamente essas as denominações), mesmo sabendo o quão (não sei que adjetivo usar aqui) é ser subserviente, porque não consegue ficar longe do alto homem branco de beleza européia e rico.
Aliás, o livro carrega uma série de outros preconceitos, que, nem sei porque, ainda me choco ao me bater com eles.

Até onde cheguei, o livro pode trazer uma reflexão feminista: afinal de contas, quantas são as mulheres que se submetem sexualmente e/ou de diversas outras maneiras a homens, para satisfazê-los, não ficarem sozinhas em casa vendo tv, rodeadas de gatos, e nem se dão conta disso?
O livro está fortemente marcado pela presença do sadomasoquismo, a mistura da dor e do prazer blábláblá. Isso, pessoalmente, é o menos importante. Se os dois (ou mais) topam, e querem mesmo, beleza: o que vale é o que rola entre quatro paredes.

A grande questão é: Anastasia se submete a Grey, sabe todos os perigos, as condições; critica a ideia e se auto-critica diversas vezes por sequer pensar nisso. Mas ela escolhe esse caminho. Até onde eu li, ela escolheu porque a ideia também pareceu ser excitante para ela. Até aí, okay. No entanto, ainda na dúvida do "topa ou não topa", ela se entrega a profundos pensamentos se deve aceitar ou não, porque senão ele pode deixá-la. Oh. Que triste. Não é um relacionamento assim (mesmo que o sexo seja maravilhoso) que ela quer, mas topa porque não vai tê-lo. Ela topa O QUE ELE QUER, senão vai ficar sozinha. Oi? Isso aí não é feminismo. Isso aí que é a submissão.

O livro é ruim, sem sal, sem açúcar, sem nada gostoso. Não me deixou um pingo excitada (enojada e enraivecida algumas vezes). A única reflexão que me trouxe é a já mencionada: a submissão sexual que Anastasia se permite é uma analogia (pra mim. Sei lá o que se passou pela cabeça da autora) para uma série de submissões que as mulheres se impõem, ou se deixam impor, (sem questionar ou contestar), em seus diversos tipos de relacionamento - seja no sexo ou não.

50 tons bem insípidos mesmo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Início, fim e meio

Alguém me disse algumas milhares de vezes: "Escreva! Você tem talento, não deixe isso se perder!" (Tá. Esse alguém foi minha mãe. E elogio de mãe, pra mim, não conta.)

Enfim, mas dentre momentos de desespero, de me sentir perdida, de pensar: Caralho, meu! Eu não tenho nenhum talento?, eu escrevi um post no facebook, em homenagem a uma amiga que se mudou. E, apesar do texto ter sido pensado e escrito para ela, milhões de pessoas (umas 30 e pouco, o que é muito pra mim) curtiram. Porque eu escrevi sobre uma angústia que paira sobre nossas (jovens, ou nem tão jovens assim) cabeças há um tempo: o se tornar adulto e todas as suas consequências. Boas e nefastas - como essa: dizer tchau, adeus, até logo. As pessoas têm a liberdade de sair pelo mundo (consequência positiva), mas vão deixando seus rastros e vão ficando com pegadas de outras pessoas (consequência negativa), enquanto o mundo vai girando.

Nada contra fazer seus planos, girar o mundo enquanto o mundo gira. Mas, putz!, cansei de dizer 'até logo''s travestidos de 'adeus''s - sendo que vem um bem bonito aí pela frente.

Já girei um bocadinho pelo mundo, e faço a cada dia mais planos pra que isso continue acontecendo. E já dei muitos adeus(es) por aí.
E aí, caiu a ficha. Nem consigo mais pegar uma porcaria de folha de papel em branco pra escrever sobre o que eu sinto, incluindo aí "não ter talentos". E alguém me disse (e não foi minha mãe): "Texto fodão esse o seu!" E outra pessoa: "Você escreve muito bem e lindamente. Continue"

Porque não?

Já tive muitos inícios e meios e fins.
Resolvi começar outro. Mesmo que ninguém leia isso aqui. Agora vou ter que encarar minhas folhas de papel em branco.