sexta-feira, 26 de abril de 2013

Como somos contraditórios



 Como alguém que tomou uma cartela de frontal 2mg há quase um ano para dormir pra sempre não consegue mais dormir?
Como alguém que tomou uma cartela de frontal 2mg há quase um ano para "dormir pra sempre" às vezes tem muito medo de morrer?
Como alguém que tem tentado seguir disciplinadamente o yôga, parar de comer carne, se embebeda numa quarta-feira à noite, não consegue parar de fumar, de comer muito chocolate e passou a noite da quinta-feira chapado?
Como alguém que quer mudar o mundo e as pessoas não consegue mudar seus próprios hábitos auto destrutivos e hábitos que incomodam as pessoas mais próximas?
Como alguém que quer mudar o mundo sai de um grupo que trabalha há anos nesse direcionamento, com esse objetivo e não consegue mais voltar?
Como alguém se sente esgotado emocional e psicologicamente nesse grupo e com os trabalhos que são feitos e as respostas infrutíferas, sai, não volta, mas não consegue sair de um curso que não gosta, cujas notas são baixas, cuja disciplina já foi pro espaço há tempos?
Como alguém que diz amar tanto a pessoa com quem está sai pra tomar umas cervejas com alguém com quem esteve e gostou muito mesmo (mas era uma pessoa destruidora), em um dia qualquer?
Como alguém que saiu com essa pessoa que hoje é "ex-alguma coisa" ainda paquera uma outra pessoa no bar?
Como alguém que fez tudo isso, sai chapado na noite da quinta, dirigindo sem reflexos, atravessa a cidade pra ver amigos e amigas e paquera a garçonete mais bonita do lugar - mesmo estando com alguém que ama muito?
Como alguém que tem insônia, depressão e ansiedade, quer sair dessa, mas não consegue nem caminhar 30min na orla mais bonita da cidade todo dia?
Como alguém que é feminista convicta sai com essa pessoa "ex-alguma coisa destruidora", toma umas cervejas e ouve tranquilamente essa pessoa ex-alguma coisa te dissecar, dizendo que você era "mais gostosa, tinha mais perna, mais bunda" etc.?
Como alguém costuma ser a conselheira sentimental (e não se resume a relacionamentos) da maioria das amigas e de alguns amigos, mas não tira a bunda da cadeira para fazer o mesmo que aconselha a essas pessoas?
Como essa pessoa sabe que a qualquer minuto pode descer numa montanha-russa emocional, sem freios, sabe disso, mas não tenta (ou consegue) parar?

Como alguém que não dorme sem remédios há exatos 10 meses e 15 dias, odeia esses remédios, e, possivelmente, como falou uma freudiana-lacaniana, nem permite que esses remédios façam o devido efeito em seu corpo?

Pra que tanto medo de simplesmente não conseguir dormir? Pra que tanto medo de se jogar de cabeça em um relacionamento saudável dessa vez? Pra que tanto medo de fazer uma escolha de vida agora? Pra que tanto medo do futuro? A gente não sabe como vai ser o futuro. E você, há exatos 10 meses e 17 dias, quase jogou o futuro no vaso sanitário e deu descarga. Pra que tanto medo ou preguiça de fazer um esforço de sair a noite com os amigos e as amigas? Pra que tanto medo ou preguiça de se impor algumas rotinas diárias em torno de uma vida mais saudável e segui-las? Pra que tanto medo de ser paquerada e só (isso é possível. A baixa auto-estima te obriga a automaticamente querer a pessoa que te quis?)? Pra que tanto medo do tempo passando e passar? Pra que tanto medo das coisas que passam junto com o tempo e você não consegue enxergar - talvez porque não seja o momento de enxergar, talvez porque não queira, talvez porque não consiga-?

Pra que tantos questionamentos?


Nenhum comentário:

Postar um comentário